quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dormir ou não dormir na meditação? Eis a questão...




No final de uma aula de meditação conduzida, o aluno, em profundo estado de relaxamento, fatalmente adormece. Acorda assustado quando todos já estão saindo da sala, e o seu coração, que devia ter atingido quietude e tranqüilidade, dispara sob o peso dos olhares reprovadores dos “bons meditadores”, ou seja, aqueles que “agüentaram firme” sem adormecer... que pena! O que vem em seguida? Mais culpa, mais bloqueios, mais dificuldades, mais sensação de frustração, e o velho “não consigo”... Na contramão da maioria de métodos e práticas mais difundidos, estou convencida de que bloquear o impulso do sono durante uma meditação conduzida só gera más conseqüências. Será que aqueles que “aguentaram firme” de fato atingiram um estado profundo de relaxamento? Geralmente não... ficaram na superfície... Lembremos que o nosso organismo é “sábio”, e é justamente essa sabedoria que queremos resgatar no processo do Yoga, do Sufismo, do Xamanismo. Então, eu te pergunto: se o corpo deseja adormecer, não seria esse o melhor momento para deixar essa “sabedoria” aflorar? Dormir é o único ajuste possível para o sistema nervoso esgotado dos seres das cidades grandes, e que ainda não estão treinados em outros meios de ajuste energético consciente. O sono e o sexo são sagrados pelo seu poder de distensionar, elevar a mente além dos impulsos e preocupações cotidianos, sendo as mais poderosas vias naturais para nos ajudar a sair da vigília cotidiana no sentido de atingir estados interiores mais profundos. Tenho perguntado a muitos instrutores de meditação: porquê o aluno não pode dormir? Ficar “agüentando firme” o fará evoluir? Sabemos que não. Nunca vi um meditador progredir forçando ficar acordado. Eu deixo meus alunos dormirem profundamente se for o caso. Sim, eles acordam meio constrangidos, mas aos poucos, entendem que aquela qualidade de repouso é justamente o que falta para ampliar o processo. Digo a eles que o que queremos atingir, ou seja, aquele terceiro estado além das consciências comuns do sono e da vigília, é outrossim, amplamente beneficiado pelo repouso espontâneo, pela ausência de tensão, e especialmente, pela sensação de que não lutamos mais conosco, de que não enfrentamos mais uma batalha interior, de que não estamos mais competindo com coisa alguma, tentando atingir coisa alguma, tentando dominar coisa alguma... O sono durante a meditação deve ser incentivado, permitido e compreendido como um processo abençoado de reajuste. Depois do bom sono, virão bons sonhos, depois destes, um bom dia nos espera, e depois de infinitos bons dias, uma infinidade de paz, luz e serenidade. Não permita que nenhum “professor de meditação” force você a não dormir. Isso é algo que se atinge por outros métodos, jamais forçando ficar “acordado”, ainda mais naqueles poucos “cinco minutos finais” de uma aula... Bela adormecida? Não ligue: espere que um dia, o beijo do príncipe te acorda...!

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