terça-feira, 12 de outubro de 2010

Relaxar no esforço, ou fazer força para relaxar?



Umas das cenas mais engraçadas que já vi: no final de uma aula de aeróbica puxada, a professora continuava no ritmo, só que dessa vez, conduzindo o relaxamento: “Sim, eu sei que você pode conseguir! Relaaaxxee!! Rellaaaxxe mais! Mais um pouco! Agora! Muito empenho! Muita energia! Relaxeee!!!!!!” Ufa, pensei, será que eu entendi direito a proposta?

Em Hatha Yoga, temos uma regra de ouro: relaxe no esforço. Isso significa permanecer relaxado mesmo que, no decorrer da postura ou exercício de respiração, eventualmente, possam surgir tensões, dificuldades, limites e mesmo, desconfortos. Parece fácil, mas não é: diria que é a coisa mais difícil de atingir. Que fique bem claro: a regra ensina a relaxar no esforço decorrente e eventual, caso ele apareça, e não, relaxar em decorrência de qualquer tipo de esforço provocado deliberadamente. Tenho visto muita gente inverter a regra: provocam esforço na postura, provocam esforço na respiração, e aí, pretendem relaxar... pergunto: que valor teria para uma prática forçar primeiro e então, relaxar? Não parece coisa de doido? Pois é, parece e é mesmo.

A regra de ouro do Hatha Yoga tem sido duramente abatida por um dos maiores males da nossa civilização: a noção de que atenção vem sempre acompanhada de tensão. Isso é tão sério em nossa sociedade que todo aquele capaz de realizar uma tarefa sem se “estressar” chega a ser menos considerado: ele “não leva a sério”, é “menos empenhado”, é “aquele cara que não se envolve fundo no trabalho”, “rende menos”... Mas veja: isso é uma falácia, um péssimo vício que começamos desde a infância: se a criança não “sofre o suficiente” no estudo, no dia da prova, ou naquela competição, imediatamente colocamos no seu caminho uma cobrança de “mais seriedade”, “empenho”, e o pior: ensinamos a elas aquilo que aprendemos : que “lideres” são aquelas pessoas ferozes, agressivas, sempre prontas para a próxima “patada”.

O meditador inteligente observa a natureza: o leão, rei da selva, dorme mais do que acorda. Ele é líder de dentro para fora. A leoa caça, a leoa cuida, a leoa alimenta, a leoa territorializa, a leoa cuida da cria... o leão dorme... dorme sem estar presente? Não. Problemas? Quem resolve é o leão, o rei. Precisa bater? Nada: basta o rugido, o rugido do dorminhoco que até então, não se tensiona com nada... parece nem ligar ! Essa força que precisamos aprender a liberar através do yoga: a força do leão desperto/adormecido: o leão de juba opulenta é relaxado, respira largo e solto, e não acredita em fazer esforço.

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